Adoramos as trilhas de Florianópolis, mas quando chove, ainda podemos fazer muitos programas legais na cidade. Como gostamos muito da história de Santa Catarina, de conhecer a cultura manezinha, adoramos passear pelos diversos museus e prédios históricos que nossa cidade possui.
Então, neste post, vamos propor um passeio pelo Centro Histórico de Floripa, em um dia de chuva.
MUSEU DE FLORIANÓPOLIS
Localizado na Praça XV de novembro, bem no centro histórico de Florianópolis é um dos museus que mais gostamos. Recentemente reaberto traz a história do nosso município de forma bem moderna, com mapas interativos, apresentações audiovisuais, tudo de forma muito lúdica e atrativa.
Funciona no prédio onde antigamente funcionava a Casa de Câmara e Cadeia, construída entre os anos de 1771 e 1780, tendo sua obra temporariamente suspensa durante a invasão espanhola de 1777.
Uma curiosidade sobre o prédio aconteceu em 1865, quando em visita à Desterro (antigo nome do Florianópolis), o Imperador Dom Pedro II, quebrando o protocolo decidiu passar pelas celas do presídio, que ficava na parte inferior do edifício. Incialmente o carcereiro não conseguiu abrir as portas, mas quando conseguiram entrar, os detentos se ajoelharam e contaram ao Imperador seus casos. O governante não gostou nada da situação dos apenados, em especial quanto à cozinha. Uma matéria de jornal da época traz de forma detalhada esse acontecimento:
“S.M. quiz entrar nas prizões e ordenou fossem-lhe franqueadas. Demorando-se o carcereiro a abrir a porta do primeiro xadrez por estar perdida a chave, mandou abrir um dos postigos, pelo qual entrou. Ali foi representada uma scena tocante entre o Augusto Monarca e os infelizes presos. Logo que S.M. penetrou o interior do calabouço, todos os presos se postarão a seus augustos pés; mas o magnânimo Imperador dos brasileiros não lhes permittio que se conservassem nessa posição em sua Imperial presença, ordenando-lhes que se erguessem.
Indagou sobre seus crimes e penas. Assim em todos os xadreses. Examinou o estado das prisões, estendendo-se o seu Imperial exame até a cozinha. Sobre estes objetos informarão-os que S.M. manifestou o seu desagrado por encontrar a conveniente limpeza nas prisões e irregularidades no modo de preparo da comida. Depois subio à Câmara, tudo indagando e retirou-se” (REIS, 2008).
MUSEU VICTOR MEIRELLES
Localizado a apenas uma quadra do Museu de Florianópolis, este museu traz em seu acervo obras do pintor desterrense Victor Meirelles de Lima, que viveu entre 1832 e 1903 e é reconhecido especialmente pelas obras históricas, panoramas e retratos que pintou.
O museu fica localizado no prédio onde Victor nasceu e viveu até os quinze anos, quando foi convidado a ir morar no Rio de Janeiro para estudar na Academia Imperial de Belas Artes após ter atraído a atenção de políticos da época para suas pinturas.
Em 1852 venceu um concurso e foi estudar na Europa, onde desenvolveu imensamente sua arte, voltando ao Brasil em 1861 e assumindo a cadeira de professor de pintura história na academia imperial. É dele a conhecida obra "A Primeira Missa no Brasil".
No museu é possível ver obras originais do artista, em especial a Vista Parcial de Desterro, pintada em 1851 e que retrata a cidade vista do adro da Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito. No segundo plano, uma vista da cidade de Nossa Senhora do Desterro, destacando-se à esquerda a Igreja Matriz, ao centro a Rua do Livramento (atual Rua Trajano) e à direita a Igreja de São Francisco. Já no plano de fundo, a baía sul com destaque para o Cambirela, montanha situada na região continental, atual Palhoça.
Vale passar na igreja para ver as mudanças depois de quase dois séculos.
PALÁCIO CRUZ E SOUSA
O Palácio Cruz e Sousa abriga o Museu Histórico de Santa Catarina. Trata-se de um prédio construído no século XVIII para servir de casa do governo da província de Santa Catarina. Passou por diversas alterações até atingir a arquitetura eclética atual.
Em 1979 recebeu o nome de Palácio Cruz e Sousa para homenagear o poeta negro desterrense que é um dos mais famosos poetas simbolistas do país. Em sua homenagem também foi realizada uma grande intervenção artística num dos edifícios ao lado do museu, que chama atenção pelo tamanho e grande beleza.
Além da grande beleza arquitetônica do interior e exterior, o acervo conta com móveis e outras peças que remontam a diversas fases da história catarinense.
Mais recentemente, o palácio foi palco de um dos momentos mais marcantes da história florianopolitana, a novembrada. Em 30 de novembro de 1979, o então presidente General João Figueiredo em visita a Florianópolis, em plena ditadura militar, foi hostilizado por diversos manifestantes, principalmente estudantes da UFSC, que lutavam por mais liberdade e questionavam e o alto custo de vida na cidade.
CATEDRAL
A Catedral Metropolitana de Florianópolis foi erigida em honra a Nossa Senhora do Desterro pelo fundador da cidade, o bandeirante Francisco Dias Velho no século XVII (bem menor e modesta à época). Reza a lenda ou narra a história que foi dentro da modesta igrejinha que Dias Velho foi assassinado por piratas vingativos.
Sua arquitetura passou por grande mudança no século XVIII, por obra do Brigadeiro José da Silva Paes, primeiro governante da província de Santa Catarina, o mesmo governador que construiu as principais fortalezas da ilha.
Passou por diversas reformas e possui vitrais belíssimos que valem o passeio independente do seu credo.
CENTRO CULTURAL DA MARINHA
Localizado na antiga Fortaleza de Santa Bárbara, no centro de Florianópolis, bem próximo da Praça XV de novembro. Antigamente ficava em uma pequena ilha, próxima à beira do mar e servia como proteção ao porto da cidade, com seus canhões e soldados. Sua história remonta ao século XVIII. Atualmente, com o aterro da Baía Sul, fica distante do mar. O prédio em si já é um patrimônio histórico.
Num município que já foi tão dependente do mar, esse museu traz importante acervo das questões navais que remontam o passado da cidade. Réplicas de navios, moedas, armas e diversas outros artigos que nos levam a uma viagem no tempo.
ALFÂNDEGA
A atual Casa da Alfândega de Florianópolis foi inaugurada em 1876, após o prédio anterior ter explodido por causas desconhecidas e que acarretou na morte de dez pessoas. Sua arquitetura neoclássica impressiona pela imponência e beleza. Trata-se de um patrimônio histórico catarinense.
Na frente da sua fachada conseguimos observar o local onde o mar chegava antes do aterro realizado nos meados do século passado. Em seu interior funciona a Galeria do Artesanato, onde é possível ver e adquirir artesanatos da cidade, como as características rendas de bilro ou bonecos de bruxas, boi de mamão ou a famosa bernunça entre outras peças características da cultura manezinha.
Em frente ao prédio, no Largo da Alfândega, em uma revitalização entregue em 2020 foi construída uma estrutura com decks de madeira e cobertura em estrutura metálica que lembra o trabalho das rendeiras. Uma linda obra.
MERCADO PÚBLICO
Para encerrar o passeio pelo centro de Florianópolis, uma visita ao Mercado Municipal e conhecer a cultura dos manezinhos pescadores, a diversidade de frutos do mar e outras opções de artesanato. Se estiver com fome, não perca a oportunidade de apreciar iguarias da ilha como as ostras e tainhas. Sugerimos a tradicional ostra ao bafo e tainha escalada.
O Mercado Público é um patrimônio histórico de Santa Catarina. Foi inaugurado em 1851, possuindo somente uma ala, sendo a segunda ala construída somente em 1891. Assim como o Prédio da Alfândega, o Mercado Público ficava à beira mar, para melhor receber os pescados que chegavam de diversas partes da ilha. Outro local que se distanciou do mar após o aterro.
CIC - Centro Integrado de Cultura
Localizado no bairro da Agronômica, na Beira Mar Norte, o Centro Integrado de Cultura é um complexo cultural de exposições, cinema, o Teatro Ademir Rosa, o Museu de Arte de Santa Catarina e o Museu da Imagem e do Som. As apresentações e exposições são itinerantes, por isso é importante verificar a programação antes da visita.
Aos sábados acontecem apresentação de filmes na sala de cinema de forma gratuita, sendo a entrada por ordem de chegada.
MUSEU DO HOMEM DO SAMBAQUI
Esse museu traz a história dos primeiros habitantes da Ilha de Santa Catarina através de registros do trabalho de um dos pioneiros na arqueologia catarinense, o Padre João Alfredo Rohr.
Nele é possível ver diversas peças cerâmicas dos povos indígenas, zoólitos que são esculturas em pedra e arte rupestre. Há também outras coleções como de conchas, animais e rochas.
Está localizado dentro do Colégio Catarinense, no centro da cidade, e é importante agendar a visita.
INSTITUTO COLLAÇO PAULO
Aberto ao público em Julho de 2022 e localizado em Coqueiros, região continental de Florianópolis, o Instituto tem o objetivo de promover a arte e cultura, com exposição de coleções e atividades de cunho educativo.
A mostra inaugural é "Mais Humano: arte no Brasil de 1850 - 1930" e estará em exposição até 21 de janeiro de 2023. São artistas brasileiros e estrangeiros radicados ou com produção no Brasil.
O acervo é surpreendente, com obras importantes da história da arte de Santa Catarina e do Brasil. Artistas como o desterrense Victor Meirelles e Pedro Américo, os dois pintores mais requisitados por Dom Pedro II.
Nos encantamos com as obras que retratam Florianópolis do século XIX e início do século XX, como as de Eduardo Dias, Bruggemann e Weingartner.
Em um corredor dedicado a artistas catarinenses (nascidos ou radicados) temos Eli Heil, Hassis, Meyer Filho, Martinho de Haro e Rodrigo de Haro.
Programe uma tarde para visitar a charmosa Coqueiros e conhecer esse instituto impressionante.
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